segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

A ninfa inconstante (resenha)

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Minha impressão inicial foi desagradável: prosa forçada, com aparente erudição pretensiosa, trocadilhos irritantes e diálogos nem um pouco convincentes. Mas foi bom ter continuado, pois o livro realmente melhora, apesar de continuar do mesmo jeito do começo ao fim: é que o autor consegue juntar tudo muito bem e criar algo realmente especial. 

Para simplificar dá pra dizer que o livro é Lolita passado no Caribe, mais especificamente na Havana pré-revolucionária, com tudo que ela tinha de bom (e ruim). Aliás, Cabrera Infante faz nesse livro um esforço memorialista muito grande, e ele é uma ode a Havana antes de ser uma ode a Estela. Para quem se interesse pela vida dos nossos hermanos da ilha, a obra é uma boa pedida. Quanto à semelhança com o livro do Nabokov, ela está mais na aparência (homem de letras que se envolve com uma moça mais jovem) do que no desenvolvimento, já que a relação é bem menos problemática do ponto de vista legal e moral: com 16 anos Stella já é maior de idade segundo a lei da ilha, pelo menos à época. Logo, a obra é bem menos escandalosa, mas tem lá sua problemática com relação a esse relacionamento, que não tem nada de amor e bem pouco de desejo, mostrando duas pessoas problemáticas se arrastando por um mundo ainda mais problemático.

O livro é relativamente curto, além de ser uma leitura que não exige muito esforço, gostos de ler e devorado com facilidade, o que é bom, em especial levando em conta que o autor busca (e consegue) oferecer literatura de verdade. É um dos melhores livros que já li? Não, mas não me arrependo da leitura, e ainda a recomendo, em especial como uma leitura mais leve entre outras mais exigentes, ou um interlúdio entre leituras de não-ficção. Não conheço o resto da obra do homem, mas o livro me interessou suficientemente para buscar conhecer mais dos seus escritos.

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