Minha impressão inicial foi
desagradável: prosa forçada, com aparente erudição pretensiosa, trocadilhos
irritantes e diálogos nem um pouco convincentes. Mas foi bom ter continuado,
pois o livro realmente melhora, apesar de continuar do mesmo jeito do começo ao
fim: é que o autor consegue juntar tudo muito bem e criar algo realmente
especial.
Para simplificar dá pra dizer que
o livro é Lolita passado no Caribe, mais especificamente na Havana
pré-revolucionária, com tudo que ela tinha de bom (e ruim). Aliás, Cabrera
Infante faz nesse livro um esforço memorialista muito grande, e ele é uma ode a
Havana antes de ser uma ode a Estela. Para quem se interesse pela vida dos
nossos hermanos da ilha, a obra é uma boa pedida. Quanto à semelhança com o
livro do Nabokov, ela está mais na aparência (homem de letras que se envolve
com uma moça mais jovem) do que no desenvolvimento, já que a relação é bem
menos problemática do ponto de vista legal e moral: com 16 anos Stella já é
maior de idade segundo a lei da ilha, pelo menos à época. Logo, a obra é bem
menos escandalosa, mas tem lá sua problemática com relação a esse
relacionamento, que não tem nada de amor e bem pouco de desejo, mostrando duas
pessoas problemáticas se arrastando por um mundo ainda mais problemático.
O livro é relativamente curto,
além de ser uma leitura que não exige muito esforço, gostos de ler e devorado
com facilidade, o que é bom, em especial levando em conta que o autor busca (e
consegue) oferecer literatura de verdade. É um dos melhores livros que já li?
Não, mas não me arrependo da leitura, e ainda a recomendo, em especial como uma
leitura mais leve entre outras mais exigentes, ou um interlúdio entre leituras
de não-ficção. Não conheço o resto da obra do homem, mas o livro me interessou
suficientemente para buscar conhecer mais dos seus escritos.
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