Aquele que escreve para os tolos pode ter certeza de sempre ter grande audiência.
Aforismos para a Sabedoria de Vida, de Arthur Schopenhauer
Schopenhauer é o go to guy para quem quer conhecer o “lado negro” da Filosofia. Geralmente ele é criticado por ser extremamente pessimista, e não apenas por ser um carinha meio deprê, mas por realmente sistematizar toda a nossa experiência de mundo da forma mais triste e carente de significado o possível.
Partindo dessa introdução, parece surpreendente esperar que o cara tenha escrito um livro para a ajudar as pessoas a serem mais felizes, mas fez justamente isso, e muito bem. O livro é parte de uma obra maior (Parerga e Paralipomena), mas costuma ser lido separadamente, e mostra que Schopenhauer, embora bastante depressivo no seu trabalho filosófico, consegue ver com clareza a forma mais prática de se viver, não para encontrar a felicidade, o que ele considera absurdo, mas para evitar a dor e o tédio, o que, para ele, é o melhor que podemos almejar.
Se você busca a verdade, então a vida examinada vai apenas te levar até os limites da solidão e te deixar no acostamento, com sua verdade e nada mais.
The Conspiracy Against the Human Race, de Thomas Ligotti
Chamar o que o Ligotti faz de Filosofia é forçar a barra, já que o livro em si é uma obra de arte que visa chocar. No entanto, o cara realmente vai fundo na filosofia, buscando as visões pessimistas de vários pensadores. É o livro ideal para quem leu Schopenhauer e achou o cara muito otimista. Também é perfeito para quem assistiu True Detective e se sentiu atraído pela Filosofia do Rustin Cohle, interpretado por Matthew McConaughey. Por fim, é o livro para todo mundo que já olhou à sua volta e percebeu um mundo hostil, e depois olhou para dentro de si, e viu algo ainda pior.
Entre pele e pele, há apenas luz.
The Magus, de John Fowles
Foi o primeiro livro de John Fowles que eu li (antes de The French Lieutenant’s Woman) e me deixou uma forte impressão. O livro é LONGO e cansativo, mas a estética é incrível: mais de uma vez li e reli trechos e páginas inteiras apenas pelo prazer estético de um bom dialogo ou descrição.
Basicamente, é a história de um jovem professor Inglês que vai trabalhar em uma escola numa ilha grega, e lá conhece o “magus” do título, um velho milionário com muitos mistérios, e acaba se envolvendo com uma bela e ainda mais misteriosa jovem que vive com ele. Mas nesse livro nada é o que parece, e as camadas de mentiras e mistérios vão aos poucos se revelando.
É com certeza um livro confuso, mas vale muito o esforço para que seja lido, e relido.
Filhos de Maomé, se animem, pois amanhã teremos tantos cristãos em nossas mãos que os venderemos, dois escravos por um ducado, e teremos tantas riquezas que seremos todos de ouro, e das barbas dos gregos faremos coleiras para nossos cães, e suas famílias serão nossos escravos.
1453, de Roger Crowley
Nunca se deram ao trabalho de me explicar, na escola, o que foi o Império Bizantino. Só depois de terminar minha segunda faculdade (!) é que eu decidi estudar a história do Cristianismo com afinco, e me deparei com esse enorme império, invisível em todos os meus anos escolares. Mas o conheci primeiro pelo seu triste fim: a queda de Constantinopla e seu subseqüente saque pelos turcos Otomanos. Os mesmo Otomanos que por séculos aterrorizaram cristãos pela Europa e Oriente Médio, antes e depois da queda da última capital romana, e que genocidaram quase toda a população grega de um antes grande e admirável império. O livro narra justamente esses últimos momentos de Constantinopla durante o cerco de 1453.
O autor faz o trabalho de historiador com esmero, não mostrando preferências nem julgamentos de valores, sempre fazendo o possível para mostrar diferentes perspectivas e pontos de vista. Isso pode fazer com que um turco hoje leia o livro e sinta orgulho de sua história, mas para um cristão, o livro serve como uma elegia e um alerta. Até para quem não é cristão ou muçulmano, o livro fornece ferramentas úteis, mesmo para entender as relações geopolíticas do mundo atual. Ajuda a explicar, por exemplo, a antipatia e mesmo hostilidade entre Rússia e Turquia (mesmo antes do recente assassinato do embaixador russo em Ankara). Ou seja, é realmente um livro valioso, independentemente de suas opiniões pessoais.
Acreditamos que inventamos símbolos. Na verdade, eles nos inventam; nós somos suas criaturas, formadas por suas mãos.
Shadow and Claw, de Geene Wolfe
O livro é na verdade a junção das duas primeiras obras da “saga” The Book of the New Sun: The Shadow of the Torturer e The Claw of the Conciliator. Narra a história do jovem Severian, um aprendiz da Guilda dos Torturadores, que acaba se envolvendo em um conflito político e é expulso da guilda, e suas subseqüentes viagens e encontros com diversos personagens. No meio do caminho, Geene Wolfe aproveita para discutir diversas questões filosóficas, éticas, morais e religiosas, mas sem cansar ninguém: são migalhas de intelectualidade num livro cheio de aventura e mistério para agradar o nerd padrão.
Outro bônus é que Geene exibe na sua obra sua admiração pela religião Cristã (que ele conhece através do Catolicismo), que fica evidente para quem conhece mesmo só um pouco de teologia, e é um presente a mais para quem se aventura em sua obra. Esse livro, e os demais da coleção, são o melhor que a fantasia gerou, provavelmente desde Tolkien, e serve de alívio para quem tinha que se contentar com o bom-mas-nem-tanto mundo imaginário de G. R. R. Martin.
Deus é supremamente bom porque ele supremamente É.
Confissões, de Santo Agostinho de Hipônia
Este é um livro para ler, reler, e reler de novo, várias vezes durante a vida. Santo Agostinho foi um Santo e Doutro da Igreja, e seus escritos foram por séculos a principal base teológica da Igreja, tanto Ocidental quanto Oriental. Até São Tomás, Agostinho era autoridade máxima, e hoje continua essencial para quem quer entender teologia. Além disso, ele foi Filósofo e um grande psicólogo: esta é a primeira auto-biografia que se tem notícia, e o primeiro livro a adentrar os segredos da mente e buscar entender porque pensamos e fazemos coisas de uma determinada maneira e não de outra.
O livro é ainda a história da conversão do santo, mostrando suas interações com o Evangelho desde a infância, através de sua mãe cristã, Mônica, sua passagem pelo Dualismo, até conhecer, em Roma, Santo Ambrósio, que o convenceu da verdade das Escrituras. É uma história de uma vida de pecado que se arrepende e se torna alva como a neve, e ascende a Deus. É basicamente o que todo cristão busca, e é sempre bom saber que alguém alcançou as alturas, e que todos nós também podemos.