domingo, 26 de fevereiro de 2012

Imortalidade

[Gustav] Fechner diz que a nossa consciência - o homem - está equipada de uma série de anseios, apetências , esperanças, temores, que não correspondem à duração de sua vida. Quando Dante diz: ne’l mezzo del cammin di nostra vita, faz-nos lembrar que as Escrituras nos recomendavam setenta anos de vida. Assim, depois de completar 35 anos, teve aquela visão. Nós, no curso de nossos setenta anos de vida (infelizmente já ultrapassei esse limite; já estou com 78), sentimos coisas que não têm sentido nesta vida. Fechner pensa no embrião, no corpo antes de sair do ventre da mãe. Naquele corpo há pernas que não servem para nada, braços, mãos, nada disso tem sentido; são coisas que só podem ter sentido numa vida ulterior. Devemos pensar que o mesmo acontece conosco, que estamos cheios de esperanças, de temores, de conjecturas, e não precisamos de nada disso para uma vida puramente mortal. Precisamos do que os animais têm, e eles podem prescindir de tudo isso, que pode ser usado depois, em outra vida mais plena. É um argumento a favor da imortalidade”.

Trecho de Borges oral & Sete noites, de Jorges Luis Borges.

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